22 julho 2010

A fé e a soberania de Deus



Por Leonardo Gonçalves

Recentemente terminei uma série de estudos na carta de Paulo aos Romanos. Como sempre acontece, a leitura de Romanos instigou o pensamento dos crentes, fazendo-os contemplar com maior clareza o Deus soberano que os salvou, bem como o modo como ele salva.

Um dos pontos de tensão na carta é a aparente dualidade entre a fé e a soberania de Deus, tanto que alguns escritores evangélicos, na tentativa de conciliar a fé (do homem) e a soberania (de Deus), acabam por optar pelo sinergismo, que é a crença de que o homem pode cooperar com Deus para a sua salvação. Definitivamente, não creio assim. Estou convencido de que a soberania de Deus não deixa nenhum espaço para a glorificação humana.

A aparente tensão somente surge quando ignoramos o fato de que a fé (do homem) é também a fé de Deus. Senão, vejamos:

Primeiramente devemos perceber que a fé é um dom de Deus. Isso está claro em passagens como Filipenses 1.29 (onde está escrito que a nós foi concedido crer), em Hebreus 12.2 (onde Cristo é o autor e consumador da nossa fé), e de um modo muito especial em Efésios 2.8, onde a salvação de graça e por meio da fé aparece claramente como um dom de Deus. Poderíamos ainda mencionar Pedro, quando este diz que Deus, por seu divino poder, nos concedeu “tudo que diz respeito à vida e a piedade” (2Pd 1.3) e também Tiago, quando afirma que toda “boa dádiva e dom perfeito vem de Deus” (Tg 1.17), mas creio que estas referências são suficientes.

O segundo ponto que quero aclarar é que a fé, sendo um dom de Deus, é irrevogável. Isso encontramos em Romanos 11.29, onde Paulo diz que “os dons de Deus e o seu chamado são irrevogáveis”. Sendo assim, podemos afirmar que um crente verdadeiro pode apresentar uma fé fraca ou forte, mas ele sempre terá fé. No entanto, não ignoro que alguns, tendo conhecido o evangelho, se distanciam, aparentando perder a fé. Estes, na realidade, apenas aparentavam fé, pois nunca a tiveram (1Jo 2.19).

Em terceiro lugar, gostaria de esclarecer que nem todas as pessoas possuem fé salvífica. Obviamente existe um tipo de fé comum a todos os homens, como a fé nos ídolos ou em si mesmos, mas nem todos possuem fé para a salvação. Paulo aos Tessalonicenses disse que “a fé não é de todos” (2Ts 3.2), e isso pode ser percebido também quando observamos ao nosso redor e fatalmente constatamos que nem todos se salvam. Ora, por alguma razão Deus decidiu não conceder a fé, que é um dom dEle, a todos os homens.

Agora, a razão porque Deus escolheu dar a fé a alguns homens não pode ser a bondade do próprio homem (pois assim a salvação seria por obras), nem mesmo algo intrínseco ao homem (porque neste caso a glória seria do homem). Por isso afirmamos que a única razão coerente porque Deus decidiu dar a fé a alguns homens é a sua livre vontade, ou soberania.

Nosso quarto ponto visa responder a seguinte pergunta: “Uma vez que a fé é um dom de Deus, irrevogável e não é de todos, então a quem Deus dá a fé?”. A resposta a esta pergunta é que somente os escolhidos de Deus terão fé. Veja, por exemplo, o modo como Paulo começa a escrever sua carta a Tito: “Paulo, servo de Deus, e apóstolo de Jesus Cristo, segundo a fé dos eleitos de Deus (...)” (Tt 1.1). Observe aqui que a fé é um presente de Deus aos que ele escolheu. Também Lucas, em Atos dos Apóstolos, narra que “creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna” (At 13.48). Somente aqueles que estavam ordenados para a vida eterna puderam crer.

A suma destas coisas é que, sabendo que a fé que o homem exerce é um dom de Deus, não convém repetir o já desgastado jargão “Salvação: Soberania de Deus; decisão sábia do homem”, uma vez que a salvação não é um projeto com participação humana, antes, é um projeto de Deus e uma decisão soberana de Deus que redundou em uma resposta humana. Também não devemos supor que nossa fé é a causa da eleição, pois primeiro foi a eleição (Ef 1.4), e depois veio a fé.

“Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?”


Soli Deo Gloria!

3 comentários:

Flavio Eduardo disse...

Muito bom este texto!
Salvação é pura graça, tem jeito ñ... e ainda tem gente que acha que é por obras, mesmo que vá totalmente contra as Escrituras...

Grande abraço.

Rodrigo Toni disse...

Concordo totalmente que a Salvação é de Graça e pela Graça.

Mas discordo de tua idéia de que Deus predestinou alguns para salvação, excluindo outros e os predestinando para a perdição. A própria Bíblia afirma que o Senhor DESEJA que TODOS sejam salvos (1ª Timóteo 2:3-4).

Também não concordo com tua afirmação de que aqueles que se distanciaram da fé o fizeram por, na verdade, nunca terem tido fé. Jesus nos adverte ao arrependimento costantemente e na Carta para a Igreja de Éfeso, em Apocalipse 2:1-7, Ele nos adverte:

+ Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas. + (Apo 2:5).

Está claro uma advertência para que a igreja em questão volte ao seu primeiro amor, caso contrário será cortada da salvação.

Well, discordo de ti, mas respeitosamente, pois acompanho teu blog aqui e no púlpito cristão há tempos e o considero um bereano e defensor do puro evangelho.

Deus te abençoe

Soli Deo Gloria

Anônimo disse...

O que aconteceu com o púlpito cristão??????

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