Por Leonardo Gonçalves
Não tenho experiência nisso. Até achava que tinha, pois quando fui para as missões, ainda com 18 anos e bem “verde” na fé, comecei a ganhar algumas almas, que eu chamava de filhos espirituais. Com o tempo, quando questionado por um crente pelo fato de ser um jovem sem filhos aconselhando famílias e abordando temas de pais e filhos, eu dizia: “todos vocês são meus filhos; como não posso falar com vocês sobre como criar filhos?” Gente, vocês nem imaginam o hilário que eu era! Até parecia o Estevam Hernandes: “Vai ter que me chamar de pai sim!” (risos). Quanta ingenuidade! E que mania besta de esconder a própria ignorância. Mas a vida quebra a gente, e através das depressões do caminho, Deus vai nos modelando e ensinando a ser mais servos dEle e menos senhores de si.
Sou marinheiro de primeira viagem, e meu moleque só tem 2 anos. Mesmo assim, já vi o suficiente para dizer que ser pai é uma das coisas mais maravilhosas que a gente pode experimentar nessa vida. Certamente há problemas, doenças, e umas situações estranhas que a gente as vezes não sabe como lidar. E ainda dizem que filho criado é trabalho dobrado, e eu oro a Deus para o Ravi não ser a metade do adolescente rebelde que eu fui, porque senão vou ficar careca e ranzinza bem antes dos quarenta. Aliás, ranzinza eu já estou!
Ontem meu garoto ficou doente. Anteontem também ficou. Garganta infeccionada, não quis saber de comer, e todo remédio que tomava, vomitava. Dá muita pena ver o filho da gente assim. Orei uma e outra vez, mas estava tão preocupado que, para ser franco, nem lembro o que foi que eu disse para Deus. Hoje ele amanheceu queimando em febre. Foi então que abracei ele e disse a Deus: “Meu filho está doente e o Senhor pode curá-lo, mas o Senhor só vai fazer isso se quiser, então, que seja feita a Tua vontade. Se ele for curado aqui eu direi obrigado; se eu tiver que levá-lo no hospital, eu te amarei do mesmo modo. Tudo o que eu quero é que o Senhor seja glorificado em nossas vidas. Amém”, e dali parti para o hospital. É o preço que eu pago por não ter comprado a toalhinha milagrenta do Valdemiro Santiago que eu vi à venda por cinqüenta reais quando fui ao Brasil no ano passado (risos).
Enquanto escrevo este texto, ouço a Jonara e o Ravi brincando. Ela está desenhando e ele está tentando adivinhar o que é. E eu, com os olhos marejados, fico aqui imaginando como é ser Deus. Se for verdade que ser Deus é ser pai – e eu sei que é – então posso estar seguro que ele jamais medirá esforços para me ajudar e me proteger, assim como eu faço com o Ravi. Obviamente isso não significa que nao passarei por algumas situações pesarosas nas quais terei que fazer a vontade dele ao invés da minha, o que é mais ou menos como quando eu falo grosso com o Ravi e o obrigo a comer toda a verdura do prato. E sei também que essas são coisas que ele não entende agora, mas que um dia vai entender e ainda vai me agradecer, exatamente como acontece com a gente nessa vida, em nossa relação com Deus. “O que eu faço, tu não entenderás agora”, disse o Mestre.
É claro que não podia deixar de prestar minha homenagem àquele a quem Deus deu o privilégio de carregar o bebê, brincar com o menino, desentender-se com o adolescente e reatar laços de amizade com o adulto e hoje também pai. Preciso agradecer o meu pai, o senhor Rubeci Gonçalves, com quem aprendi a ser homem. Ele não conhecia a Jesus como eu conheço hoje, mas isso nunca o impediu de ser uma pessoa sincera e honrada, o que prova que as leis de Deus estão escritas nos corações dos homens indistintamente. Ele perdeu o pai dele (o meu avô Eduardo) no ano passado, e eu apenas posso imaginar a barra que deve ter sido. Seria uma grande barra pra mim perder o meu velho e guerreiro, e não gosto nem de pensar na hipótese disso acontecer. No entanto, estou convencido que para aquele que confia sua vida à Cristo, toda separação neste mundo é apenas passageira, pois um dia todos nos reuniremos em Cristo, no céu. Queria muito estar com meu pai hoje, porque imagino que isso é importante para ele neste dia, quando ele lembrar do pai dele, assim como eu gostaria que o Ravi estivesse comigo se um dia eu “perdesse” o meu velho. Amor de filho não substitui amor de pai (e hoje eu sei disso!), mas ao menos consola. Vou ficar devendo esse abraço, porque o preço da redenção de muitas almas é o sacrifício da separação. Foi isso que Deus me ensinou naquela tarde inesquecível no museu Tallán.
Por último (mas não menos importante – aliás, é justamente o contrário), e já me acabando em lágrimas, quero agradecer a Deus por ter me dado o grande privilégio de ser seu filho, mesmo eu sendo aquele jovem rebelde e cheio de pecados, alguns dos quais ainda habitam os porões da minha alma e volta e meia querem me assolar. Não podem, porém, separar-me de Deus, pois nenhum pecado é maior que o sangue daquele que me comprou quando me salvou de mim mesmo. Quero felicitar a Deus neste dia dos pais (e porque não?), e dizer que não há nada mais recompensador do que viver intensamente para a Sua glória, e que não desejo honras nem louvores, não quero fama ou riquezas. Quero apenas viver para te servir e ser aquilo que o Senhor tiver reservado para mim.
A todos os pais que lêem este blog, um feliz dia!
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