28 abril 2011

Serie Antídoto (2): A cura para a igreja evangélica brasileira



Por Leonardo Gonçalves

Depois que escrevi o primeiro texto da série Antídoto, fiz uma pausa em minha vida virtual para testar até que ponto eu estava sendo fiel aos princípios ali elencados. Creio que ser fiel a Deus e ao chamado dele para nossas vidas é essencial para se tratar de um assunto como estes. Também tenho dedicado meu tempo a observar os padrões e as formas da igreja contemporânea, sempre em oração e buscando discernir o que há de errado com a igreja evangélica. Obviamente que o que escrevo aqui não é norma absoluta de verdade e reconheço que posso ser refutado em um ou outro ponto. No entanto, o texto que segue é um exercício sincero do sentimento do meu coração, fruto do desejo de ver uma igreja sã, que embora imperfeita, glorifica a Deus neste mundo e não se esconde da sua missão de ser sal e luz.

A igreja é fruto do evangelho, e o evangelho é o anuncio da igreja. Deste modo, nada mais sensato que começar nossa meditação falando de evangelho. A palavra evangelho é oriunda do grego e significa “boas notícias”. Biblicamente falando, a noção de evangelho está bastante próxima do conceito de redenção, proclamação e comunhão.

Evangelho é proclamação. Não é qualquer proclamação, mas a proclamação de que o reino de Deus foi inaugurado na terra na pessoa de Jesus Cristo e está presente na vida dos seus súbditos. O reino de Deus está presente, embora não em sua plenitude. O conceito do “já e não ainda”, isto é, a idéia de que a vontade de Deus é realizada na terra mais ainda não alcançou o seu auge é parte da proclamação, e nos impulsiona a continuar expandindo este reino através de nossas palavras e ações.

Evangelho é redenção. Redenção no sentido mais puro e mais gratuito. E redimir significa comprar. No evangelho, Deus revela sua generosidade ao comprar para si a humanidade caída, desfigurada e destituída de genuíno valor. Uma vez que todos pecaram e se fizeram inúteis, não havia razão alguma, a parte da generosidade de Deus, para que ele nos comprasse para si. No entanto, em um ato gratuito e soberano, Ele decidiu resgatar o homem da sua condição pecaminosa oferecendo o que de melhor ele tinha. Na cruz, o filho de Deus foi moído por nós.

Evangelho é comunhão. E comunhão é a essência da nossa nova vida. Comunhão é ao mesmo tempo o próprio evangelho (a boa notícia de que os homens que estavam separados de Deus podem entrar na presença dele e chamá-lo de pai), como a conseqüência dele (o acesso a uma nova vida na família de Deus, pela fé em Cristo). Desfeitas as inimizades, podemos sentar juntos para adorar e compartilhar.

Estes três elementos, embora básicos, dificilmente podem ser encontrados nas igrejas ditas cristas. Ora, a proclamação do evangelho é o reino de Deus, que é a sua vontade feita na terra através dos seus servos. No entanto, nada mais esquecido do que a vontade de Deus. Sermões sobre entrega, rendição incondicional á soberana vontade de Deus e conformidade com os seus planos estão totalmente out. O pacote evangélico contemporâneo, salvo raras e justas exceções, não admite a humildade e a subordinação entre as suas virtudes, exceto quando se trata de obedecer cegamente aos líderes eclesiásticos. O “evangelho” pregado nos púlpitos da atualidade exalta a vontade do homem e o coloca no centro das atividades cósmicas. Do homem, pelo homem e para o homem são todas as coisas, bastando apenas determinar o milagre.

Também a redenção perdeu sabor e significado. Em um mundo movido a feedback, não há sentido em pregar uma obra restauradora intimamente ligada ao conceito de eternidade. Além disso, em nosso mundo relativista não há espaço para noções “obscurantistas” tais como certo e errado, e o pecado se transforma em uma questão de ponto de vista. Em termos práticos, a presença do pecado deixou de ser reconhecida, e conseqüentemente, a redenção deixou de ser necessária. Do mesmo modo, a comunhão, o companheirismo, o discipulado integral não encontrou cabida neste mundo de Martas, onde todo mundo está continuamente ocupado com tantas coisas. Restam poucas Marias, dispostas a sentar aos pés do mestre no aconchego de uma reunião caseira, e ouvir o que ele tem a dizer, enquanto desfruta da companhia e do calor humano dos demais, irmanados, unidos.

Como restaurar a igreja e seu tripé evangélico (proclamação, redenção e comunhão) que durante séculos nos caracterizou pela alcunha? A verdade é que a forma de pensamento que criou os problemas que temos hoje não é capaz de resolvê-los. Não é criando novas comunidades engessadas, feitas nos moldes daquelas que repudiamos, que vamos resolver o problema. Aliás, não é o atual esfriamento das relações e a ausência de vida na igreja o resultado de termos copiado o modelo católico de catedral, preterindo as relações e relegando-as a um plano inferior? A reforma protestante foi uma reforma de doutrinas, mas faltou aos reformadores a coragem de reformar também as estruturas.

Assim, reconhecemos que a estrutura eclesiástica contemporânea e ocidental é um estereótipo ruim. Variam as liturgias, mas perdura a idéia extravagante de que o templo é um lugar sagrado, ao invés de um ambiente funcional, tal como na igreja romana. O resultado disso é o engessamento e a letargia crista, já que a igreja não oferece uma estrutura que favoreça a propagação da sua mensagem, concentrando todos seus esforços no interior dos seus edifícios e fazendo da reunião do templo seu momento mais solene e importante.

A igreja precisa voltar ao evangelho para elaborar uma eclesiologia que sirva os interesses do reino de Deus, e não dos homens. Ela precisa olhar para o Novo Testamento a fim de encontrar nele o paradigma que lhe falta. Parte deste labor consiste em corrigir e lapidar a liturgia do templo, facilitando a comunicação, colocando Cristo novamente no centro da adoração e contextualizando sua mensagem. Outra parte, e talvez seja a mais difícil para a igreja institucional, é promover uma estrutura de cultos nos lares, bem como reconhecer sua autenticidade como igreja de Cristo. Além de fomentar a comunhão, esta iniciativa levará a igreja aos diferentes lugares, cumprindo de forma espontânea a ordem de anunciar o evangelho a toda criatura.

O resultado deste modelo de igreja? Redenção!


3 comentários:

Welandro disse...

Seria interessante os trabalhos nos lares, mas devido ao conhecimento bíblico inicial de muitos fico pensando se essas reuniõe seriam (todas) para bem ou para nada.

Isso penso pois no que dá uma reunião no lar onde existam 6 pessoas novas convertidas (de diversas religiões) sendo conduzidas por alguém que está na Igreja há algum tempo mas que nunca chegou a ler a bíblia toda ou não enraizou os posicionamentos evangélicos iniciais como a "doutrina dos apóstolos" e marcos referenciais como teses protestantes.

Tem reuniões nos lares que quem prega fala cada besteira. Nem é proposital, mas é um desconhecer sem nexo. Jogando nos reunidos um misto de "eu ouví alguém em quem confio dizer..." com " acho que Deus...", "na verdade o certo é isso..." ou " na verdade o certo é aquilo...".

Frases soltas que não informam nada, só desinformam.

Enfim: EBD, culto de doutrina e seminários (gratúitos e genuinamente protestantes) fazem falta antes de um núcleo consistente de culto nos lares ser promovido.

remanecente disse...

irmão leonardo,este 2º post é bom reflete bem a anomalia que se instalou no corpo de cristo mas o irmão no primeiro fez a seguinte aluzão aos reformadores: Não tenho o brilhantismo de Lutero, nem o zelo teológico de Calvino. Falta-me a coragem e agora diz:A reforma protestante foi uma reforma de doutrinas, mas faltou aos reformadores a coragem de reformar também as estruturas.o alvo da reforma era o catolicismo ou não?,mas recaiu sobre o cristianismo e até hoje perdura mas vc ao mesmo tempo que dar a eles credito faz tambem descredito e o seu antidoto ataca tambenm a reforma; o que escrevo aqui não é norma absoluta de verdade e reconheço que posso ser refutado em um ou outro ponto.faço minhas tuas palavras e espero ter ajudado que Deus ti abençoe!.

Edivaldo Alves disse...

A paz do senhor é uma benção teu blog .acesse hoje o nosso blog ,seja um seguidor do nosso blog .eu farei o mesmo .juntos faremos a diferença .que Deus abençoe . http://www.manacialjovem.blogspot.com/

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